• Os mercados de NatalO cheiro de cravo e de canela invade as cidades; bredalas e manalas decoram as vitrines das padarias e docerias; a fumaça que sobe das castanhas ao serem torradas parece aquecer as ruas, dando uma impressão de fog londrino; vinho quente com especiarias para esquentar os adultos e chocolate quente no lanche das crianças... tudo isso não deixa dúvidas, o Natal está chegando. E antes que o cinza glacial de janeiro se instale, são as cores e os aromas, os sabores e as luzes dos mercados de Natal alsacianos que dão o tom.

    Objetivamente falando, não há nada de extremamente original para se fazer nos mercadinhos que se instalam em muitas das pequenas e grandes cidades alsacianas, a não ser andar pelas cabaninhas montadas para a ocasião admirando o artesanato tradicional e provar guloseimas típicas da época e da região. Mas reina por aqui um não sei o quê de mágico, um clima quimérico e encantador. Nunca o natal havia sido tão Natal para mim. E esse clima não predomina somente nas cidades e vilarejos que organizam tais mercados, ele está presente na maioria das 904 cidades e municípios que compõem a região que se enfeitam com luzes brilhantes e papais noeis bonachões, imensas árvores cobertas de neve – natural –, presentes coloridos, e as inevitáveis creches na muito católica Alsácia com suas estrelas cadentes reluzentes.Os mercados de Natal

    Os famosos mercados de Natal alsacianos nasceram em Estrasburgo, em 1570, e se chamava então "o mercado do menino Jesus". A ideia era, e continua sendo, oferecer aos habitantes das redondezas, mercadorias para a preparação do Natal. Ele comemora, esse ano, seu 447° aniversário e acolhe visitantes do mundo inteiro. Diferentemente de outros mercados que pipocaram na França nos últimos anos onde o "made in China" fez sua aparição, o de Estrasburgo respeita a tradição oferecendo somente produtos artesanais, feitos por artesãos locais. A imensa árvore de 31 metros de altura que já está sendo instalada na Praça Kléber situada no centro antigo da cidade, deve estar pronta para o dia 24 de novembro quando será oficialmente inaugurado o evento. É o mais antigo, o maior e o mais tradicional de todos.

    Os mercados de NatalAs cidades que organizam mercados propõem temas específicos para atrair visitantes. Como não seria possível falar de todos, mencionarei os mais originais. O de Altkirch, focaliza-se nas lendas misteriosas e decora a cidade como um grande livro de contos, instalando também uma pista de gelo para a garotada patinar. Já o mercado de Ribeauvillé tem a particularidade de representar o natal da Idade Média. A cidade em si é uma grande decoração medieval, os participantes vestem-se com roupas de época, carroças cruzam as ruas, artesãos representam atividades como eram exercidas antigamente, shows e encenações ao ar livre retratam hábitos e costumes de então. Em MulhOs mercados de Natalouse é instalada uma imensa roda gigante que nos dá acesso a uma vista particular da cidade, vemos de cima os tetos antigos e íngremes da região inclusive o teto da catedral. Depois do passeio, é só descer para comer um chucrute light. Mas o meu preferido é o mercado de Colmar. Eu deveria talvez dizer os mercados de Colmar, no plural, pois são criados diversos ambientes diferentes por toda a cidade. Gosto do chamado “mercado das crianças” instalado em uma pequena praça, mas que tem tudo o que o meu filho curtia e um imenso carrossel diferente dos que conheço, sobre o qual a neve cai na passagem do cavalinho. Nunca me esquecerei do brilho nos seus olhinhos quando chegamos aqui e ele o viu pela primeira vez. Ele tinha 5 anos e ficou tão maravilhado quanto eu fico ainda hoje diante desse espetáculo feérico. 

    A tradição dos mercados de Natal foi herdada da vizinha Alemanha. Inclusive, Estrasburgo era uma cidade germânica em 1570 quando seu mercado foi criado. Seu mérito foi tê-lo mantido durante todos esses anos, mesmo depois da sua incorporação à França, onde essa tradição era menos praticada. Os visitantes podem, assim, estender sua visita até Friburgo, logo depois da fronteira, onde o ambiente também é mágico, bastante descontraído.Os mercados de Natal

    A verdade é que apesar dos mais de vinte anos de vida na Europa, os muitos natais aqui passados não conseguiram apagar meu encanto de marinheiro de primeira viagem ao descobrir uma decoração autêntica que me faz voltar diretamente a minha infância, singela e feliz, lembrando-me de quando eu e minhas irmãs colávamos algodão na nossa pequena árvore de Natal para imitar a neve dos países frios. Também não consigo evitar a voz embargada por uma imensa vontade de chorar ao ouvir as músicas natalinas, onipresentes, que meu pai nos ensinava para cantarmos no culto de Natal que passávamos sempre juntos. Saudade imensa..


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